Produtos alimentares "patrimoniais"

Uma alternativa à agroindústria e à produção industrial de alimentos?

Resumo

Atualmente, proliferam os discursos sobre a alimentação e, em particular, sobre a produção e distribuição de alimentos. Uma boa parte deles gira em torno do agronegócio e da indústria alimentar, dos seus benefícios e potencialidades e dos seus efeitos indesejados, ou mesmo perversos. Uma grande diversidade de argumentos é mobilizada, defendida e refutada por proponentes e oponentes, a partir de perspectivas muitas vezes polarizadas.
Na primeira parte deste artigo, são apresentados alguns desses discursos, bem como os argumentos utilizados, os actores que os proferem, os seus objectivos e as suas estratégias. Faremos um breve resumo dos discursos críticos das actuais formas de produção alimentar e das suas propostas de mudança, que assumem a forma de uma série de alternativas, consideravelmente diferentes umas das outras. Dentro do amplo espetro de propostas de mudança, que se distribuem num continuum que vai desde a transformação radical das formas de produção alimentar até à ocupação de pequenos nichos complementares a esta, encontram-se as estratégias de patrimonialização dos produtos alimentares. A segunda parte incide sobre este processo de patrimonialização, os discursos que mobiliza, os agentes que intervêm e as estratégias que são utilizadas. A terceira parte centra-se no papel dos cidadãos e dos consumidores nesta patrimonialização, e nos significados que os produtos alimentares patrimonializados adoptam para eles, bem como nos usos que lhes são dados e no lugar que ocupam nos padrões alimentares.